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Texto publicado por Alan Rennê no Medium: ir para o site.

 

A CIVILIZAÇÃO DO ESPETÁCULO E AS CERIMÔNIAS DE CASAMENTO

 

Lendo a obra de James K. Smith, Você é Aquilo que Ama, deparei-me com o seguinte trecho, a respeito da superestimada cultura cada vez mais pomposa e exibicionista das festas de casamento:

Podemos ser tentados a pensar que a explosão da indústria do casamento é uma boa notícia, como um sinal de que nossa cultura está começando a valorizar o casamento e a família, mas isso somente até lermos nas entrelinhas e efetivamente discernirmos a visão da boa vida que é comunicada em nossos padrões culturais.
Tente observar com novos olhos um fenômeno bem conhecido. Veja a ‘temporada de casamentos’ por meio de lentes litúrgicas. O que você vê?
É a época de fazer incursões de fim de semana em eventos que alegrarão o Facebook e inundarão o Instagram com um amontoado de fotografia em tom sépia. Anos de esperança destacados no Pinterest se tornarão realidade conforme dançamos noite adentro. Não se trata do Lollapalooza ou do Bonnaroo: é o casamento do seu primo.
A emoção vem se acumulando desde aquele primeiro post no Facebook; aquele com um vídeo dele pedindo a mão dela em casamento, tendo ao fundo o cenário industrial chique dos estaleiros do Brooklyn e uma banda formada por homens de barba tocando banjos, que os ‘surpreenderam’ com uma serenata. Logicamente o vídeo se tornou viral, o que fez subir o nível do casamento em si. Os convites chegaram embalados em latas de charutos da década de 1950 e traziam imagens sobrepostas de suas tatuagens em um papel artesanal, finalizados com selos postais clássicos com a sigla RSVP (por gentileza, confirmar presença). A recepção oferecerá food trucks de tacos coreanos, e a banda do noivado dará um bis, porém agora com mais bandolins. Tudo ocorrerá sob um sobrecéu iluminado com velas e guarnecido de trepadeiras, enquanto todos saboreiam a cerveja artesanal do noivo. O casamento possui seu próprio tumblr e, é claro, sua própria hashtag. Todos vão para casa com sua própria gaita de boca, gravada com os nomes do noivo e da noiva. Ninguém jamais esquecerá esse dia, principalmente porque será detalhadamente fotografado, postado, compartilhado, tuitado e carregado na internet. E todos sabemos: a internet nunca esquece.
A indústria do casamento gera uma receita anual estimada de 49 a 51 bilhões de dólares. Programas sobre casamentos, como O vestido ideal e Noivas neuróticas, formam uma categoria própria de ‘reality’ show. Minha avaliação absolutamente não científica do Pinterest sugere que aspirações relacionadas a casamentos compreendem cerca de 80% do conteúdo da internet. Foram-se os dias em que, como contam os santos mais idosos em minha congregação, os casais se casavam no culto de domingo à noite na igreja. Hoje em dia, um casamento é importante demais para ser desperdiçado: ele não aconteceu até que o vídeo do casamento, à la Wes Anderson, tenha sido publicado no Vimeo. ‘Vamos nos casar! Temos um casamento para planejar!’
Tudo isso não prova que nossa sociedade valoriza o casamento mais do que nunca?
Nem tanto. Na verdade, estimativas indicam que a receita da indústria do divórcio iguala a exibida pela indústria do casamento (uma realidade que até já gerou seu próprio documentário). Nosso interesse é o espetáculo do casamento — um evento em que nos colocamos em primeiro plano, exibimos nosso amor e convidamos outras pessoas para nosso romance de uma forma que elas jamais esquecerão. A indústria do casamento viceja com competição, novidades e demonstrações de superioridade (e ainda nem consideramos o impacto do feed de notícias do Facebook naqueles que são solteiros). Como Charles Taylor poderia ter dito, em nossa ‘era de autenticidade’, os casamentos são pegos pela dinâmica da ‘exibição mútua’: o importante é ser visto. É por isso que passamos mais tempo concentrados no brilho espetacular da cerimônia de casamento que no árduo trabalho de manter um casamento.
Contudo, a mitologia implícita da Casamentos Ltda., também reflete como encaramos o casamento. Na verdade, os mitos que depositamos sobre o matrimônio quase condenam os casamentos ao fracasso. Os casamentos giram em torno da ‘união’ romântica de dois malfadados amantes, como se o casamento fosse a prática prolongada de olhar profundamente nos olhos um do outro, mas com benefícios. Mas, mesmo então, um cônjuge é alguém que me enxerga, supre minhas necessidades, realiza meus desejos e me ‘completa’. Até mesmo nossa união romântica torna-se uma forma de amor-próprio (hilariamente captada na sátira ‘MeHarmony’ do Saturday night live).
Esse quadro romântico também é encenado na lua de mel: para iniciar seu casamento, você precisa ‘se retirar’, afastando-se da labuta cotidiana do mundo (que, aparentemente, é um veneno matrimonial). Para que seu casamento perdure, segundo essa lógica, você precisará perseverar em planejar ‘noites de encontro’ e escapadas românticas somente para o casal, para ‘manter o fogo aceso’. E nem pense em ter filhos muito cedo. Segundo esse mito, eles equivalem a um desmancha-prazeres matrimonial, pois casamento é romance, e só há romance se o casal estiver a sós.
Inúmeros casamentos são espetáculos em que celebramos sua felicidade a dois. Estamos lá mais como espectadores que como parceiros. E, nesse sentido, tais casamentos frequentemente preludiam o tipo de casamento que se seguirá. Quando amantes olham nos olhos um do outro, eles estão de costas para o mundo: uma introspecção ensimesmada captada de forma irônica em Mobile lovers, imagem de Bansky reproduzida acima.
Essa visão ‘romântica’ do amor e do casamento, que leva em conta apenas o casal, permeia quase todas as nossas narrativas culturais e é encenada em muitos de nossos rituais de casamento, especialmente naqueles que se imaginam, antes de mais nada, ‘expressivos’. Na verdade, está tão entremeada na trama do nosso imaginário social, que não conseguimos imaginar uma alternativa (quiçá nem mesmo na igreja, que é igualmente suscetível a aceitar essa mitologia). O casamento não é a concretização de nossos sonhos românticos? E não é o casamento a utopia de um tipo de bodas/lua de mel perpétuas?

FONTE: James K. Smith. Você é Aquilo que Ama: O Poder Espiritual do Hábito. São Paulo: Vida Nova, 2017. pp. 161–164.


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